sexta-feira, 26 de junho de 2020
quinta-feira, 25 de junho de 2020
Entre a espera e a esperança
MENSAGEM DO PRESIDENTE
TEMPO DE ESPERANÇA
Um ano se finda e com ele renovam-se as esperanças.
Esperança do verbo esperançar, ir atrás, buscar, não desistir. E não
simplesmente esperar.
Esperança de que permaneçamos com paz, saúde; e, sobretudo, amor.
Esperança de que o Brasil se mantenha democrático, com suas instituições
funcionando, de modo que vença sempre o medo. Medo
de um retrocesso, cujas consequências todos já conhecemos desastrosa para
todos, principalmente para os menos favorecidos pela sorte e destituídos de
qualquer poder.
Esperança de que a família, "célula mater da
sociedade", como a definiu Rui Barbosa, se mantenha coesa e inviolável.
Que nossa Academia Itaperunense de Letras (Acil)
possa continuar a refletir o sentimento de união, de idealismo e de ação, que
sempre norteou sua existência, desde sua fundação em 1991, fortalecendo, sob a
presidência de Marina Caraline de Almeida Carvalhal (Biênio 2016-2018), o
idealismo de seus membros.
E que a força e a grandeza que a fizeram nascer
permaneça para sempre.
(Dezembro
/ 2015)
Sob o signo do fascismo
Uma pequena história servirá para o estimado leitor entender o artigo. Pe. Higino Latteck , franciscano alemão que atuou em Itaperuna, na década de 70,com o qual tive a honra de conviver, me contou como era viver durante o nazismo na Alemanha.
Tinha um irmão que era sargento da ‘SS’(polícia secreta alemã), com a função de vigiar os prisioneiros dos campos de concentração, que por acaso, onde o irmão fora prisioneiro, na fase de perseguição aos religiosos.
Certo dia, chegando a casa viu os familiares conversando, a noite, descontraidamente frente a lareira da residência.
Falavam de tudo: assuntos familiares, religião, e sobre a ascensão nazista ao poder etc.
Tinham um telefone (daqueles grandes, pretos!).
O irmão alertou a todos que quando conversassem deveriam colocar um cobertor ou algo semelhante cobrindo o aparelho, pois o serviço secreto tinha meios de detectar o que estavam conversando, mesmo com o aparelho desligado e na intimidade do lar!
Embora não acreditando muito nas ponderações do policial à família, passaram a atendê-lo. E, de fato, o serviço secreto, já monitorava famílias que tinham religiosos, como no caso do padre que depois fora preso.
Tinha um irmão que era sargento da ‘SS’(polícia secreta alemã), com a função de vigiar os prisioneiros dos campos de concentração, que por acaso, onde o irmão fora prisioneiro, na fase de perseguição aos religiosos.
Certo dia, chegando a casa viu os familiares conversando, a noite, descontraidamente frente a lareira da residência.
Falavam de tudo: assuntos familiares, religião, e sobre a ascensão nazista ao poder etc.
Tinham um telefone (daqueles grandes, pretos!).
O irmão alertou a todos que quando conversassem deveriam colocar um cobertor ou algo semelhante cobrindo o aparelho, pois o serviço secreto tinha meios de detectar o que estavam conversando, mesmo com o aparelho desligado e na intimidade do lar!
Embora não acreditando muito nas ponderações do policial à família, passaram a atendê-lo. E, de fato, o serviço secreto, já monitorava famílias que tinham religiosos, como no caso do padre que depois fora preso.
Tudo era motivo para investigações, inquéritos, delações até de crianças da família,que denunciavam os pais, avós, parentes, em nome do combate à corrupção e da deturpação dos valores patrióticos e raciais, cultuados nas escolas, colégios e universidades, já que a juventude hitherlerista assim atuava!
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Trazendo o fato e desdobramentos para os dias em que o Brasil vive, podemos dizer que atravessamos uma fase de um ESTADO POLICIAL, onde 'grampear', monitorar, apreender bens, como celulares, computadores, invadir e-mails etc. tornou-se corriqueiro, à busca de 'provas' para a condenação de pessoas, principalmente políticos, empresários etc.
Coisas corriqueiras, que aprendemos na Faculdades de Direito, lições de que a prova pertence a quem acusa (presunção de inocência); restrições ás buscas e apreensões foram jogadas no 'lixo'; prisões preventivas, conduções coercitivas, sem prévias intimações; prisões por cinco dias etc. etc. estão sendo usadas permanentemente na 'apuração' de corrupções,lavagem de dinheiro etc. que todos concordamos devem ser todas combatidas, e os infratores condenados (dentro dos ditames da lei penal e processual.
Mas voltamos não só ao ESTADO POLICIAL, mas à DITADURA JUDICIAL, que como asseverou o grande Rui Barbosa, 'Dessa não há a quem recorrer!'
As consequências disso não sabemos. O desabafo do Ministro Gilmar Mendes, faz sentido, principalmente tratando-se do Supremo Tribunal Federal! Podemos até prever alguma coisa, levando em consideração do que houve na Alemanha e Itália, principalmente!
O Parlamento, A política, de um modo geral, já estão desmoralizados! Tripé da democracia, quando fecharem lá, esta não ficará em pé!
No mesmo passo, o Executivo, onde temos um presidente nas mãos de empresários confessadamente, corruptores, que delatam ao sabor de uma pena mínima, ou até isenção da mesma, para se livrarem de penas altíssimas dos crimes que praticaram há anos e anos, surrupiando os valores nacionais.
Há controvérsias sobre o papel da Polícia Federal nos acordos de diminuição de pena, bem como do Ministério Público, subtraindo o papel do judiciário, encarregado de aplicar e dosar as penas e seu modo de cumprí-las.
Quando jovem advogado, não acreditava na Polícia. Hoje tenho restrições às decisões da Justiça!
Se esta, um dos pilares da democracia se desmoralizar (já temos indícios na Corte Suprema), o que será de nosso país, nossa democracia, futuro de nossos filhos, netos, bisnetos?
É um futuro (local) ‘incerto e não sabido’, como nas informações dos oficiais de justiça quando não encontram o cidadão a ser intimado!
Quadro triste; desolador!
Com a palavra os detentores do poder que ainda não estão presos, investigados, monitorados, desmoralizados por uma mídia partidária, interesseira que também, investiga seleciona, pune etc.
Avisos de brilhantes juristas, membros aposentados do judiciário e do Ministério Público, daqui e de outras partes do mundo, que estudam a problemática judicial brasileira, chamam a atenção para esse QUADRO DESOLADOR, e pior, com o apoio de grande maioria da população, que leiga no assunto, clama por uma agilidade na punição a qualquer preço, esquecidos que sem regras formais, vão fazer mais injustiças, com o nome de Justiça, que punir quem precisa ser punido.
É nosso pensamento e contribuição de quem advoga há 44 (quarenta e quatro anos, (vinte dos quais) a serviço da OAB, nos 5 (cinco) mandatos que esteve na Instituição e quem teve o privilégio de conviver com um padre franciscano (biografia abaixo); prisioneiro de concentração nazista, que conseguiu fugir para nosso país.
Como se diz lá no meu burgo ‘Paciência e caldo de galinha não faz mal a ninguém!’
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Trazendo o fato e desdobramentos para os dias em que o Brasil vive, podemos dizer que atravessamos uma fase de um ESTADO POLICIAL, onde 'grampear', monitorar, apreender bens, como celulares, computadores, invadir e-mails etc. tornou-se corriqueiro, à busca de 'provas' para a condenação de pessoas, principalmente políticos, empresários etc.
Coisas corriqueiras, que aprendemos na Faculdades de Direito, lições de que a prova pertence a quem acusa (presunção de inocência); restrições ás buscas e apreensões foram jogadas no 'lixo'; prisões preventivas, conduções coercitivas, sem prévias intimações; prisões por cinco dias etc. etc. estão sendo usadas permanentemente na 'apuração' de corrupções,lavagem de dinheiro etc. que todos concordamos devem ser todas combatidas, e os infratores condenados (dentro dos ditames da lei penal e processual.
Mas voltamos não só ao ESTADO POLICIAL, mas à DITADURA JUDICIAL, que como asseverou o grande Rui Barbosa, 'Dessa não há a quem recorrer!'
As consequências disso não sabemos. O desabafo do Ministro Gilmar Mendes, faz sentido, principalmente tratando-se do Supremo Tribunal Federal! Podemos até prever alguma coisa, levando em consideração do que houve na Alemanha e Itália, principalmente!
O Parlamento, A política, de um modo geral, já estão desmoralizados! Tripé da democracia, quando fecharem lá, esta não ficará em pé!
No mesmo passo, o Executivo, onde temos um presidente nas mãos de empresários confessadamente, corruptores, que delatam ao sabor de uma pena mínima, ou até isenção da mesma, para se livrarem de penas altíssimas dos crimes que praticaram há anos e anos, surrupiando os valores nacionais.
Há controvérsias sobre o papel da Polícia Federal nos acordos de diminuição de pena, bem como do Ministério Público, subtraindo o papel do judiciário, encarregado de aplicar e dosar as penas e seu modo de cumprí-las.
Quando jovem advogado, não acreditava na Polícia. Hoje tenho restrições às decisões da Justiça!
Se esta, um dos pilares da democracia se desmoralizar (já temos indícios na Corte Suprema), o que será de nosso país, nossa democracia, futuro de nossos filhos, netos, bisnetos?
É um futuro (local) ‘incerto e não sabido’, como nas informações dos oficiais de justiça quando não encontram o cidadão a ser intimado!
Quadro triste; desolador!
Com a palavra os detentores do poder que ainda não estão presos, investigados, monitorados, desmoralizados por uma mídia partidária, interesseira que também, investiga seleciona, pune etc.
Avisos de brilhantes juristas, membros aposentados do judiciário e do Ministério Público, daqui e de outras partes do mundo, que estudam a problemática judicial brasileira, chamam a atenção para esse QUADRO DESOLADOR, e pior, com o apoio de grande maioria da população, que leiga no assunto, clama por uma agilidade na punição a qualquer preço, esquecidos que sem regras formais, vão fazer mais injustiças, com o nome de Justiça, que punir quem precisa ser punido.
É nosso pensamento e contribuição de quem advoga há 44 (quarenta e quatro anos, (vinte dos quais) a serviço da OAB, nos 5 (cinco) mandatos que esteve na Instituição e quem teve o privilégio de conviver com um padre franciscano (biografia abaixo); prisioneiro de concentração nazista, que conseguiu fugir para nosso país.
Como se diz lá no meu burgo ‘Paciência e caldo de galinha não faz mal a ninguém!’
(O autor é advogado há 44 anos, professor, escritor, presidente emérito da Academia Itaperunense de Letras), Membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros, e, nas horas vagas, cronista!
PADRE HIGINO RICARDO LATTECK
PADRE HIGINO COM O APOSTOLADO DA ORAÇÃO NA IGREJA MATRIZ DE RECREIO
Pe. Higino, frade fransciscano, nasceu em Instgerburg-Prussia/Alemanha em 31 de março de 1905 e faleceu em 02 de setembro de 1983. Filho de José Latteck e Anna Hanshatter. Estudou no Convento dos Franciscanos em Fulda na Alemanha onde ordenou-se padre franciscano em 27 de abril de 1930. Foi Missionário na Alemanha, Suiça e Iuguslávia no período de 1930 a 1940. Chegou ao Brasil em 06 de junho de 1940 no sul de Mato Grosso, fugindo do anticlericarismo nazista que se implantou na Alemanha. Por pertencer a Ordem dos Franciscanos passou a ser perseguido pelos nazistas e se tornou prisioneiro político sendo levado para um campo de concentração. Lá sofreu os piores horrores daquela triste guerra. Naquele horrendo campo de concentração tinha que andar sem camisa, pois suas costas estava toda cortada e arranhada. Este era o resultado dos castigos pelas inúmeras tentativas de fuga. Apesar dos castigos Frei Higino lutava ferozmente pela sonhada liberdade. Era preciso continuar seu trabalho de sacerdote. Seu irmão se tornara um dos sargentos da guarda civil alemã naquele campo e também era Maçom. Vendo o sofrimento do seu irmão providenciou junto aos irmãos maçons passaportes para ele e seu inseparável amigo Pe. Giuliano para que, appós a fuga pudessem embarcar sem serem perseguidos. E assim os dois embarcaram como passageiros comuns rumo à sonhada liberdade. Foi o primeiro Vigário residente de Dourados de 1940 a 1947. Conforme Inez Maria Bittencourt do Amaral, em sua dissertação de mestrado ENTRE RUPTURAS E PERMANÊNCIA - A Igreja Católica na região de Douras de 1943 a 1971, apresentada do Curso de Pós-gradua em História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Em 1939 foi grande a saida de franciscanos da Alemanha devido a luta anticlerical chamada de culturkampf, política do partido nazista quando controlou totalmente o estado germanico em 1939. A emissão de passaportes ficou prejudicada, conventos foram fechados e muitos padres foram presos. Em Dourados a construção da primeira capela foi iniciada em 1925. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, trazida da França, foi levada em procissão até a capela em oito de dezembro desse mesmo ano. Os apelos da comunidade para que a Paróquia de N.S. da Conceição tivesse um padre residente foi atendido com a posse de Frei Higino Latteck em 1940. Até a construção da residência paroquial,ao lado da capela, esse padre se hospedou na casa de dona Antonia Capilé. Ele se empenhou ferrenhamente para mudar o cenário religioso local, embora com muitas dificuldade, pois era alemão e não falava uma palavra em português; foram as familias católicas que o ensinaram em suas casas. Frei Higino celebrava as Missas e depois perguntava aos mais próximos a ele se havia errado alguma coisa. Em suja luta, encontra-se o apele feito ao Comissariano Franciscano para a vinda das Irmãs de caridade para Dourados, no intuito de que assumissem a catequese nas escolas, o cuidado com os doentes e a expansçao do catolicismo. Entre as propostas encontrava-se a criação de escolas primárias para ambos os sexos e a criação de um internato para as meninas. A proposta esbarrava em dois grandes entraves: encontrar Irmãs que quisessem vir para a região e a Lei de Ensino Brasileira, do governo Vargas, que não permitia a contratação de professores estrangeiros, há não ser que os mesmos já residissem há vários anos no Brasil e passassem por um rigoroso teste de Lingua Portuguesa.
Em 1942 vieram três Irmãs Franciscanas Bernadinas para Dourados. A época não era propícia para o trânsito de estrangeiros, em virtude da Segunda Guerra Mundial. Hou também dificuldades das freiras na renovação dos seus registros de professoras. Sobre a chegada das religiosas Frei Higino escreveu: "o dia dezenove de agosto foi um dia da benção divinal. Chegou, pois, o meu auxiliar muito desejado, o Frei Shaefer. Chegaram, que sorte, três freiras franciscanas destinadas ao ensino das crianças". Em primeiro de setembro as Irmãs Franciscanas abriram o seu colégio na casa das escolas reunidas que o senhor Prefeito benignamente arranjou para este fim. O número de primeiros alunos foi vinte e seis. Além das inúmeras dificuldades enfrentadas pelos padres e freiras em Dourados, dois deles sofreram constrangimento por parte da polícia local. Assim relatou Frei Higino: "Nós fomos denunciados de sermos espiões políticos no serviço do Nazismo na Alemanha (Nazismo é o governo da nossa terra, cuja doutrina pagã está condenada pelo Senhor Papa e cujos algozes são e eram os inimigos ferozes da Igreja Católica). Duraram sete semanas a nossa prisão, em que podíamos, graças ao bom Delegado de Polícia, rezar a santa missa. O Diabo e seus instrumentos, os caluniadores trabalham, mas é Deus que manda no mundo". O caso relatado que envolveu os dois padres franciscanos Frei Shaefer e Frei Higino Latteck, levou-os a uma detenção vigiada, ou seja permitiam-se que saissem e exercessem suas funções religiosas até 02 de junho de 1942. Esse fato deveu-se ao fato de que esses dois religiosos portassem uma arma durante suas visitas nas redondezas de Dourados e terem sido revistados por policiais. No entanto havia ocorrido um episódio anteriro de denuncia contra Frei Higino. Este costumava tirar uma série de fotografias da região em suas andanças no lombo de um burrinho, o que serviriam para o envioà Turíngia no intuito de obtenção de apoio financeiro para o seu trabalho na região. Algumas pessoas, que desconheciam essa finalidade, confundiram-no como um membro da Gestapo infiltrado no Brasil como espião. Em virtude dessas perseguições, da falta de verbas e da estrutura local, as Irmãs decidiram fechar a escola e sair de Dourados. As Irmãs foram difamadas por certas pessoas católicas que dizendo que eram espiãs, não tinham licença para lecionar, não ensinavam de acordo com o regulamento e não falavam bem o português. Diante do fato assim se manifestou Frei Higino: "Nunca mais, enquanto eu, frei Hygino, for vigário estabelecer-se-ão aqui freiras". De 1947 a 1955 foi Vigário em Recreio-MG. De Recreio foi para Friburgo-RJ tendo sido Vigário e Capelão dos alemães no período de 1955 a 1968. De Friburgo foi para Itaperuna-RJ, sendo vigário de 1968 a 1973 da Paróquia N.S. do Rosário de Fátima. Em 1973 retorna para Recreio-MG como Vigário onde ficou até 02 de setembro de 1983, quando faleceu. Foi sepultado no Cemitério de Recreio. Naturalizou-se brasileiro com o nome de Pe. Higino Ricardo Latteck. Lecionou na Faculdade Santa Marcelina de Muriaé-MG, Filosofia e Cultura Religiosa na década de 1970. Por que Pe. Higino veio para o sul de Mato Grosso? Em 1939 foi grande a saida de franciscanos da Alemanha devido a luta anticlerical pela chamada de Kulturcampf, política do partido nazista que controlou totalmente o estado germânico em 1939. A emissão de passaportes ficou prejudicada, conventos foram fechados e muitos frades foram presos. As despedidas deixaram de ser solenes para não chamar a atenção da Gestapo, a polícia secreta do estado alemão, responsável por vigiar igrejas, seitas, judeus e "pessoas de cor". As comunicações entre a Alemanha e o Brasil foram interrompidas quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha. Foi a estrada de ferro que trouxe os missionários alemães e boa parte dos materiais de construção para Campo Grande.
PADRE HIGINO COM O APOSTOLADO DA ORAÇÃO NA IGREJA MATRIZ DE RECREIO
Pe. Higino, frade fransciscano, nasceu em Instgerburg-Prussia/Alemanha em 31 de março de 1905 e faleceu em 02 de setembro de 1983. Filho de José Latteck e Anna Hanshatter. Estudou no Convento dos Franciscanos em Fulda na Alemanha onde ordenou-se padre franciscano em 27 de abril de 1930. Foi Missionário na Alemanha, Suiça e Iuguslávia no período de 1930 a 1940. Chegou ao Brasil em 06 de junho de 1940 no sul de Mato Grosso, fugindo do anticlericarismo nazista que se implantou na Alemanha. Por pertencer a Ordem dos Franciscanos passou a ser perseguido pelos nazistas e se tornou prisioneiro político sendo levado para um campo de concentração. Lá sofreu os piores horrores daquela triste guerra. Naquele horrendo campo de concentração tinha que andar sem camisa, pois suas costas estava toda cortada e arranhada. Este era o resultado dos castigos pelas inúmeras tentativas de fuga. Apesar dos castigos Frei Higino lutava ferozmente pela sonhada liberdade. Era preciso continuar seu trabalho de sacerdote. Seu irmão se tornara um dos sargentos da guarda civil alemã naquele campo e também era Maçom. Vendo o sofrimento do seu irmão providenciou junto aos irmãos maçons passaportes para ele e seu inseparável amigo Pe. Giuliano para que, appós a fuga pudessem embarcar sem serem perseguidos. E assim os dois embarcaram como passageiros comuns rumo à sonhada liberdade. Foi o primeiro Vigário residente de Dourados de 1940 a 1947. Conforme Inez Maria Bittencourt do Amaral, em sua dissertação de mestrado ENTRE RUPTURAS E PERMANÊNCIA - A Igreja Católica na região de Douras de 1943 a 1971, apresentada do Curso de Pós-gradua em História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Em 1939 foi grande a saida de franciscanos da Alemanha devido a luta anticlerical chamada de culturkampf, política do partido nazista quando controlou totalmente o estado germanico em 1939. A emissão de passaportes ficou prejudicada, conventos foram fechados e muitos padres foram presos. Em Dourados a construção da primeira capela foi iniciada em 1925. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, trazida da França, foi levada em procissão até a capela em oito de dezembro desse mesmo ano. Os apelos da comunidade para que a Paróquia de N.S. da Conceição tivesse um padre residente foi atendido com a posse de Frei Higino Latteck em 1940. Até a construção da residência paroquial,ao lado da capela, esse padre se hospedou na casa de dona Antonia Capilé. Ele se empenhou ferrenhamente para mudar o cenário religioso local, embora com muitas dificuldade, pois era alemão e não falava uma palavra em português; foram as familias católicas que o ensinaram em suas casas. Frei Higino celebrava as Missas e depois perguntava aos mais próximos a ele se havia errado alguma coisa. Em suja luta, encontra-se o apele feito ao Comissariano Franciscano para a vinda das Irmãs de caridade para Dourados, no intuito de que assumissem a catequese nas escolas, o cuidado com os doentes e a expansçao do catolicismo. Entre as propostas encontrava-se a criação de escolas primárias para ambos os sexos e a criação de um internato para as meninas. A proposta esbarrava em dois grandes entraves: encontrar Irmãs que quisessem vir para a região e a Lei de Ensino Brasileira, do governo Vargas, que não permitia a contratação de professores estrangeiros, há não ser que os mesmos já residissem há vários anos no Brasil e passassem por um rigoroso teste de Lingua Portuguesa.
Em 1942 vieram três Irmãs Franciscanas Bernadinas para Dourados. A época não era propícia para o trânsito de estrangeiros, em virtude da Segunda Guerra Mundial. Hou também dificuldades das freiras na renovação dos seus registros de professoras. Sobre a chegada das religiosas Frei Higino escreveu: "o dia dezenove de agosto foi um dia da benção divinal. Chegou, pois, o meu auxiliar muito desejado, o Frei Shaefer. Chegaram, que sorte, três freiras franciscanas destinadas ao ensino das crianças". Em primeiro de setembro as Irmãs Franciscanas abriram o seu colégio na casa das escolas reunidas que o senhor Prefeito benignamente arranjou para este fim. O número de primeiros alunos foi vinte e seis. Além das inúmeras dificuldades enfrentadas pelos padres e freiras em Dourados, dois deles sofreram constrangimento por parte da polícia local. Assim relatou Frei Higino: "Nós fomos denunciados de sermos espiões políticos no serviço do Nazismo na Alemanha (Nazismo é o governo da nossa terra, cuja doutrina pagã está condenada pelo Senhor Papa e cujos algozes são e eram os inimigos ferozes da Igreja Católica). Duraram sete semanas a nossa prisão, em que podíamos, graças ao bom Delegado de Polícia, rezar a santa missa. O Diabo e seus instrumentos, os caluniadores trabalham, mas é Deus que manda no mundo". O caso relatado que envolveu os dois padres franciscanos Frei Shaefer e Frei Higino Latteck, levou-os a uma detenção vigiada, ou seja permitiam-se que saissem e exercessem suas funções religiosas até 02 de junho de 1942. Esse fato deveu-se ao fato de que esses dois religiosos portassem uma arma durante suas visitas nas redondezas de Dourados e terem sido revistados por policiais. No entanto havia ocorrido um episódio anteriro de denuncia contra Frei Higino. Este costumava tirar uma série de fotografias da região em suas andanças no lombo de um burrinho, o que serviriam para o envioà Turíngia no intuito de obtenção de apoio financeiro para o seu trabalho na região. Algumas pessoas, que desconheciam essa finalidade, confundiram-no como um membro da Gestapo infiltrado no Brasil como espião. Em virtude dessas perseguições, da falta de verbas e da estrutura local, as Irmãs decidiram fechar a escola e sair de Dourados. As Irmãs foram difamadas por certas pessoas católicas que dizendo que eram espiãs, não tinham licença para lecionar, não ensinavam de acordo com o regulamento e não falavam bem o português. Diante do fato assim se manifestou Frei Higino: "Nunca mais, enquanto eu, frei Hygino, for vigário estabelecer-se-ão aqui freiras". De 1947 a 1955 foi Vigário em Recreio-MG. De Recreio foi para Friburgo-RJ tendo sido Vigário e Capelão dos alemães no período de 1955 a 1968. De Friburgo foi para Itaperuna-RJ, sendo vigário de 1968 a 1973 da Paróquia N.S. do Rosário de Fátima. Em 1973 retorna para Recreio-MG como Vigário onde ficou até 02 de setembro de 1983, quando faleceu. Foi sepultado no Cemitério de Recreio. Naturalizou-se brasileiro com o nome de Pe. Higino Ricardo Latteck. Lecionou na Faculdade Santa Marcelina de Muriaé-MG, Filosofia e Cultura Religiosa na década de 1970. Por que Pe. Higino veio para o sul de Mato Grosso? Em 1939 foi grande a saida de franciscanos da Alemanha devido a luta anticlerical pela chamada de Kulturcampf, política do partido nazista que controlou totalmente o estado germânico em 1939. A emissão de passaportes ficou prejudicada, conventos foram fechados e muitos frades foram presos. As despedidas deixaram de ser solenes para não chamar a atenção da Gestapo, a polícia secreta do estado alemão, responsável por vigiar igrejas, seitas, judeus e "pessoas de cor". As comunicações entre a Alemanha e o Brasil foram interrompidas quando o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha. Foi a estrada de ferro que trouxe os missionários alemães e boa parte dos materiais de construção para Campo Grande.
domingo, 14 de junho de 2020
Crônica sobre meus pais
CRÔNICA SOBRE MEUS PAIS.
Não sei o porquê, de quando em vez me dá uma inominável indescritível vontade de escrever sobre meus pais
Admiração que tenho pelos dois, é um gesto de amor tão filial que transcende minha inibição.
E o mais estranho é situar e analisar a admiração com personalidades tão diversas, quanto ao jeito, modo e a maneira de agir e de pensar, uma união que durou mais de cinquentas anos, num um misto de amor e contradição de ações para com os filhos, administração das coisas do casal etc.; de luta e de trabalho em uma relação tão contundente, tão conflituosa que mereceria até uma análise psicanalítica
Meu pai, já falecido, tinha, um dom espiritual elevado, ao mesmo tempo depressivo, filósofo, ripe etc...
Minha mãe uma guerreira prática e eficiente, econômica e de uma inteligência emocional próxima a genialidade.
Dele (meu pai), recordo os bons momentos da minha infância; das longas caminhadas a pé, que fazíamos, até chegar “serrinha”, fazendola de vô Balbina.
Saíamos as quatro da manhã, fazendo um longo percurso, que dava para perceber nas casas rurais e nas estradas e trilhas, o cheiro do mato, do café de garapa que emanava das casas rurais próximas dos caminhos e trilhas que passávamos; das nascentes das águas e o respeito que ele me infundia pela flora e pela fauna, transferindo um respeito e admiração fenomenal pela natureza.
Tudo me permitia nessas caminhas, como rolar pedras morro abaixo etc. menos matar qualquer pássaro, bicho, pegar qualquer flor, mesmo aquelas mais comuns da relva sobre qual passávamos.
Ao anoitecer, chegando à casa de vovó, passava horas, com o janelão do quarto aberto, mostrando-me as estrelas e pacientemente apontando para “o cruzeiro do sul” como se quisesse me mostrar os céus, Deus, enfim todas as criaturas boas que acreditava estar lá!
Quando chovia ou fazia calor ou frio, não amaldiçoava o tempo!
- Todo tempo é bom meu filho, as pessoas não sabem que injustiça fazem com a natureza ao falar em “mau tempo”, filosofava!
Foi meu primeiro professor antes de qualquer escola. Meu primeiro e único ecologista, uma pessoa que amava tanto a natureza sendo praticamente analfabeto, posto que só tinha o curso primário!
Foi também, mais que um educador; um filósofo!
- Qual a importância tem em saber para onde corre o rio. O importante é saber que corre, que tem vida, que vence barreiras, tem como componente o maior elemento da natureza que é a água.
-Amava como ninguém os livros, quaisquer que fossem, ele dizia: ‘é bom, é muito bom este livro’.
Para ele não existia livros ruins pois partia do pressuposto que o livro reunia o que de melhor uma pessoa, podia colocar em suas páginas.
Lembro que o melhor presente que confessara ter ganhado, foi um dicionário escolar da minha esposa! Consultava-o sempre na sua “ignorância” nas letras e definições. Tinha um espirito que o impulsionava a conhecer não só para mostrar “cultura” mas para educar e saber o que a escola lhe negou!
A humildade era seu atributo maior.
A humildade era seu atributo maior.
Impressionante:
Nunca ouvi falar mal de qualquer pessoa. Quando alguém lhe importunava, ele simplesmente se afastava e dizia “deixe para lá, meu filho!”
Por pior pessoa por que fosse e agressivo!
Tinha preocupações materiais para manter a família. O primeiro dinheiro conseguido gastava todo e. perguntado por minha mãe, como seria o dia amanhã, simplesmente respondia:
“Deus dará outro... Deus dará outro”
E o impressionante que Deus sempre o ouvia em suas preces a cada necessidade surgia uma solução que para nós parecia impossível!
Nunca ouvi falar mal de qualquer pessoa. Quando alguém lhe importunava, ele simplesmente se afastava e dizia “deixe para lá, meu filho!”
Por pior pessoa por que fosse e agressivo!
Tinha preocupações materiais para manter a família. O primeiro dinheiro conseguido gastava todo e. perguntado por minha mãe, como seria o dia amanhã, simplesmente respondia:
“Deus dará outro... Deus dará outro”
E o impressionante que Deus sempre o ouvia em suas preces a cada necessidade surgia uma solução que para nós parecia impossível!
Quanto a minha mãe, é uma pessoa totalmente prática que procura, ainda hoje, através da controvérsia, mostrar aos filhos que as coisas materiais fazem sentido. São necessárias e devem ser quantificadas, perseguidas, para a tranquilidade do lar, da família e do futuro dos filhos.
Foi e continua sendo também minha professora, economista; minha guerreira! Não sei de onde vêm a força desta mulher, que consegue ainda hoje aos 84 anos, energia para viver, lutar e interagir, acontecer todas as coisas. Fé. para guardar para si, para os outros, e rezar, mais uma oração não convencional, orar informando, ensinando, educando!
Foram décadas para descobrir que ela já sintetizava o segredo para uma vida saudável: comer pouco, apenas o necessário para manutenção do corpo e caminhar (exercitar!).
Parece ter a satisfação de contrariar os partidários do otimismo barato. Otimista sim, mas dentro de uma realidade. Reflete em suas conversas um pessimismo franco, com as coisas, o futuro, como a economia e a educação dos netos, mas este “pessimismo”, se observa nada mais do que o mais franco dos otimismos!
- Não existe êxito sem luta, nem sobrevivência sem trabalho “se você quer merecer a comida de hoje, pergunte o que fizeste para merecer isso?
- O mundo é feito de trabalho, de luta, de garra.
Não existe realização sem trabalho, nem sucesso sem determinação!
Muitas vezes a vi orar (mas dissimuladamente). Parecia não gostar de se submeter a um SER superior, embora esteja nisso a maior submissão em sua fé.
- A verdadeira oração é o trabalho, é o que ajuda as pessoas a merecerem e serem ajudadas;
O resto é “pantomina”. – Assevera!
Criticava as beatas, as jovens com suas vestes caracterizadas.
- Porque não rezar trabalhando, construindo, progredindo, ressalta.
- Que mérito tem rezar um terço todo, se não pratica uma boa ação?
Porque a clausura?
Sua forma de rezar e ajudar é diferente, condena, ainda hoje, as repetições, mas reza “escondidamente o terço todos os dias!”
Critica quem não se esforça até a exaustão, mas não reza e nem ajuda os fracos.
Para ela dois ou três tipos merecem compaixão: os doentes, os deficientes, crianças e idosos.
Só esses teem cem por cento de desconto nos atos que praticam: a criança e o idoso.
- A criança porque depende do adulto, seu ‘juízo’ é o deles!
Os velhos. porque enfraquecidos, merecem proteção frequente.
Para ela o pior lugar antes do túmulo é um asilo, que por melhor que seja não tem o aconchego de um lar, mesmo que o mais simples casebre.
Tem consciência de casa e de lar.
Uma casa eu posso construir em um mês. Um lar a vida toda! Exclamava.
Disse ser ela a minha primeira professora de economia por dois fatos marcantes.
Lembro-me, na era dos tostões me recriminou de forma prática ao meu dizer de que “um tostão não valia nada”.
Certo dia, pegou uma porção de moedas, que estavam na cristaleira (um tipo de armário que se usava na cozinha), e mandou-me comprar dois quilos de arroz, (eu tinha oito anos), e, sem conferir as moedas, me dirigi a venda de um comerciante chamado ‘Caio’. Lá, o comerciante ao checar as moedas, viu que faltava um tostão , para complementar o pagamento, de dois quilos de arroz solicitado. O comerciante embora me entregando os dois quilos de arroz solicitado, pediu que eu disse-se a ela ao chegar em casa, que estava faltando um tostão, e que ela mandasse o mesmo na próxima compra!
Ao chegar em casa declinei para “velha” que o comerciante Caio, dissera que ela deveria mandar a quantia que faltava.
- Ora, não faltou nada, não era só um tostão? Indagou ela.
- Você mesmo se encarregue de pagar ao Caio. Você não disse que um tostão não vale nada. Ponderei a ela, que eu não tinha nem um tostão, e nem dinheiro nenhum e que ficaria chato, chegar lá e fazer nova compra sem repor o que estava devendo.
Mas a velha foi incisiva.
- Você se vira, ali no quintal tem vários tostões pendurados naquelas árvores, asseverou! Eram as laranjas que estavam no ponto de serem vendidas.
Aí percebi a malícia construtiva da mãe-professora-economista nata!
Ela tinha, propositalmente, retido o tostão da quantia que eu levara para comprar o arroz.
Queria me ensinar o valor das pequenas coisas e apontar para o futuro de um homem honesto
-Quanto a isto, honestidade, também não faltou lições dela.
Certa vez fui levar um corte de “caque”, para dona filinha, para fazer uma calça para papai, e lá chegando percebi que havia no varal, vários pregadores de roupa, que eu, consegui surrupiar, pois planejava colocá-los na orelha dos colegas, durante o período das aulas, na escola rural. Chegando em casa, e vendo eu com aquela sacolinha com os pregadores de roupa, ela me perguntou:
- Onde conseguiste isso, moleque?
E eu com aquelas desculpas infantis, dizia: “Foi o carlinhos que me dêu”; Ailton, que tinha o apelido de pirulito, etc..
Nada disso moleque:
Você apanhou isto na ‘dona filinha’, pois só ela tem pregadores de roupa, por ser costureira.
Ora, pegue todos, e vá à casa de dona filinha e entregue os pregadores nas mãos dela, que morava bem distante no chamado bairro ‘Coreia’, nome dado posto que lá dava muita briga, com peixeira, foiçadas e tudo mais!
Fui caminhando com o produto do “crime”, que cometerá, com o pensamento acelerado de como iria chegar perto de dona filinha e dizer: ‘Vim entregar o que apanhei irregularmente!’
Assim caminhando lentamente fui “bolando” o que dizer para dona filinha. Mas nada se encaixava dentro do natural, pois ela ia saber que eu havia apanhado irregularmente os tais pregadores. Como era bem distante de nossa casa, a residência de dona filinha, e ao sol de meio dia, que queimava os meus pés em contato com a terra, fui a caminhando no mais penoso percurso que fiz na vida.
Ao chegar frente ao alpendre, onde ficava dona filinha costurando, atirei lá de baixo, a sacola com os pregadores furtados, e voltei pensando de como falar com ela, posto que tinha me recomendado a entregar nas mãos dela, (nas mãos de dona filinha).
Não me lembro se ela conferiu com dona filinha a entrega, pois ela se encontravam semanas depois.
Mas a lição ficou para que eu não pegasse nada que não fosse meu!
Lição de honestidade, que sempre procurei a transmitir aos meus filhos e netos.
Tinha também o senso de organização e de autoridade.
Quando já em Itaperuna, casado, fui pintar a minha casa, ela ofereceu para que nós dormíssemos na casa dela. Minha filha, já mocinha estudava no colégio’Marechal Deodoro da Fonseca! Hoje, ‘Dez de Maio’. Pela manhã, e apressada para chegar à escola no horário previsto, levantou-se no primeiro dia, tomou café e foi estudar, sem arrumar a cama. Natural para quem levantava cedo, e apressadamente!
No segundo dia, a mesma coisa, no terceiro, ela questionou a neta: “ gosto muito de você minha querida neta, Estou muito satisfeita de você dormir aqui em casa, mas por favor, quando chegar da escola, arrume a cama que você dormiu, hoje eu arrumei pela última vez, e não será eu, com oitenta anos que, vou arrumar cama para você com treze anos!’
A neta, revoltada, pois quem arrumava a cama, lá em casa era a empregada, não mais voltou para dormir, preferindo ficar em nossa casa mesmo com cheiro de tinta, do que se submeter ao conselho da avó! mas estou certo que ficou a lição, para sempre, porque a encarnação do pais que esta escreve, com a filha permanece até hoje!
- Vá arrumar a cama, você não lembra da lição da sua avô, não?! Sempre relembro a título de ‘gozação!’
Esta lição, umas das poucas, que me recordo do perfil de minha mãe, que ainda tenho a felicidade do convívio.
Foi deste amalgama de ideias, pensamentos dela e de meu pai, contradições, paixões e amor dela para conosco que acabou se ajustando na personalidade dos filhos, retratadas hoje por este cronista, que tem a felicidade de ter sido criado e educado por genitores tão capazes!
Pais tão puros, tão abençoados por Deus!
Foi e continua sendo também minha professora, economista; minha guerreira! Não sei de onde vêm a força desta mulher, que consegue ainda hoje aos 84 anos, energia para viver, lutar e interagir, acontecer todas as coisas. Fé. para guardar para si, para os outros, e rezar, mais uma oração não convencional, orar informando, ensinando, educando!
Foram décadas para descobrir que ela já sintetizava o segredo para uma vida saudável: comer pouco, apenas o necessário para manutenção do corpo e caminhar (exercitar!).
Parece ter a satisfação de contrariar os partidários do otimismo barato. Otimista sim, mas dentro de uma realidade. Reflete em suas conversas um pessimismo franco, com as coisas, o futuro, como a economia e a educação dos netos, mas este “pessimismo”, se observa nada mais do que o mais franco dos otimismos!
- Não existe êxito sem luta, nem sobrevivência sem trabalho “se você quer merecer a comida de hoje, pergunte o que fizeste para merecer isso?
- O mundo é feito de trabalho, de luta, de garra.
Não existe realização sem trabalho, nem sucesso sem determinação!
Muitas vezes a vi orar (mas dissimuladamente). Parecia não gostar de se submeter a um SER superior, embora esteja nisso a maior submissão em sua fé.
- A verdadeira oração é o trabalho, é o que ajuda as pessoas a merecerem e serem ajudadas;
O resto é “pantomina”. – Assevera!
Criticava as beatas, as jovens com suas vestes caracterizadas.
- Porque não rezar trabalhando, construindo, progredindo, ressalta.
- Que mérito tem rezar um terço todo, se não pratica uma boa ação?
Porque a clausura?
Sua forma de rezar e ajudar é diferente, condena, ainda hoje, as repetições, mas reza “escondidamente o terço todos os dias!”
Critica quem não se esforça até a exaustão, mas não reza e nem ajuda os fracos.
Para ela dois ou três tipos merecem compaixão: os doentes, os deficientes, crianças e idosos.
Só esses teem cem por cento de desconto nos atos que praticam: a criança e o idoso.
- A criança porque depende do adulto, seu ‘juízo’ é o deles!
Os velhos. porque enfraquecidos, merecem proteção frequente.
Para ela o pior lugar antes do túmulo é um asilo, que por melhor que seja não tem o aconchego de um lar, mesmo que o mais simples casebre.
Tem consciência de casa e de lar.
Uma casa eu posso construir em um mês. Um lar a vida toda! Exclamava.
Disse ser ela a minha primeira professora de economia por dois fatos marcantes.
Lembro-me, na era dos tostões me recriminou de forma prática ao meu dizer de que “um tostão não valia nada”.
Certo dia, pegou uma porção de moedas, que estavam na cristaleira (um tipo de armário que se usava na cozinha), e mandou-me comprar dois quilos de arroz, (eu tinha oito anos), e, sem conferir as moedas, me dirigi a venda de um comerciante chamado ‘Caio’. Lá, o comerciante ao checar as moedas, viu que faltava um tostão , para complementar o pagamento, de dois quilos de arroz solicitado. O comerciante embora me entregando os dois quilos de arroz solicitado, pediu que eu disse-se a ela ao chegar em casa, que estava faltando um tostão, e que ela mandasse o mesmo na próxima compra!
Ao chegar em casa declinei para “velha” que o comerciante Caio, dissera que ela deveria mandar a quantia que faltava.
- Ora, não faltou nada, não era só um tostão? Indagou ela.
- Você mesmo se encarregue de pagar ao Caio. Você não disse que um tostão não vale nada. Ponderei a ela, que eu não tinha nem um tostão, e nem dinheiro nenhum e que ficaria chato, chegar lá e fazer nova compra sem repor o que estava devendo.
Mas a velha foi incisiva.
- Você se vira, ali no quintal tem vários tostões pendurados naquelas árvores, asseverou! Eram as laranjas que estavam no ponto de serem vendidas.
Aí percebi a malícia construtiva da mãe-professora-economista nata!
Ela tinha, propositalmente, retido o tostão da quantia que eu levara para comprar o arroz.
Queria me ensinar o valor das pequenas coisas e apontar para o futuro de um homem honesto
-Quanto a isto, honestidade, também não faltou lições dela.
Certa vez fui levar um corte de “caque”, para dona filinha, para fazer uma calça para papai, e lá chegando percebi que havia no varal, vários pregadores de roupa, que eu, consegui surrupiar, pois planejava colocá-los na orelha dos colegas, durante o período das aulas, na escola rural. Chegando em casa, e vendo eu com aquela sacolinha com os pregadores de roupa, ela me perguntou:
- Onde conseguiste isso, moleque?
E eu com aquelas desculpas infantis, dizia: “Foi o carlinhos que me dêu”; Ailton, que tinha o apelido de pirulito, etc..
Nada disso moleque:
Você apanhou isto na ‘dona filinha’, pois só ela tem pregadores de roupa, por ser costureira.
Ora, pegue todos, e vá à casa de dona filinha e entregue os pregadores nas mãos dela, que morava bem distante no chamado bairro ‘Coreia’, nome dado posto que lá dava muita briga, com peixeira, foiçadas e tudo mais!
Fui caminhando com o produto do “crime”, que cometerá, com o pensamento acelerado de como iria chegar perto de dona filinha e dizer: ‘Vim entregar o que apanhei irregularmente!’
Assim caminhando lentamente fui “bolando” o que dizer para dona filinha. Mas nada se encaixava dentro do natural, pois ela ia saber que eu havia apanhado irregularmente os tais pregadores. Como era bem distante de nossa casa, a residência de dona filinha, e ao sol de meio dia, que queimava os meus pés em contato com a terra, fui a caminhando no mais penoso percurso que fiz na vida.
Ao chegar frente ao alpendre, onde ficava dona filinha costurando, atirei lá de baixo, a sacola com os pregadores furtados, e voltei pensando de como falar com ela, posto que tinha me recomendado a entregar nas mãos dela, (nas mãos de dona filinha).
Não me lembro se ela conferiu com dona filinha a entrega, pois ela se encontravam semanas depois.
Mas a lição ficou para que eu não pegasse nada que não fosse meu!
Lição de honestidade, que sempre procurei a transmitir aos meus filhos e netos.
Tinha também o senso de organização e de autoridade.
Quando já em Itaperuna, casado, fui pintar a minha casa, ela ofereceu para que nós dormíssemos na casa dela. Minha filha, já mocinha estudava no colégio’Marechal Deodoro da Fonseca! Hoje, ‘Dez de Maio’. Pela manhã, e apressada para chegar à escola no horário previsto, levantou-se no primeiro dia, tomou café e foi estudar, sem arrumar a cama. Natural para quem levantava cedo, e apressadamente!
No segundo dia, a mesma coisa, no terceiro, ela questionou a neta: “ gosto muito de você minha querida neta, Estou muito satisfeita de você dormir aqui em casa, mas por favor, quando chegar da escola, arrume a cama que você dormiu, hoje eu arrumei pela última vez, e não será eu, com oitenta anos que, vou arrumar cama para você com treze anos!’
A neta, revoltada, pois quem arrumava a cama, lá em casa era a empregada, não mais voltou para dormir, preferindo ficar em nossa casa mesmo com cheiro de tinta, do que se submeter ao conselho da avó! mas estou certo que ficou a lição, para sempre, porque a encarnação do pais que esta escreve, com a filha permanece até hoje!
- Vá arrumar a cama, você não lembra da lição da sua avô, não?! Sempre relembro a título de ‘gozação!’
Esta lição, umas das poucas, que me recordo do perfil de minha mãe, que ainda tenho a felicidade do convívio.
Foi deste amalgama de ideias, pensamentos dela e de meu pai, contradições, paixões e amor dela para conosco que acabou se ajustando na personalidade dos filhos, retratadas hoje por este cronista, que tem a felicidade de ter sido criado e educado por genitores tão capazes!
Pais tão puros, tão abençoados por Deus!
Com toda modéstia,’não dá inveja ao leitor, com toda permissão, ser criado e educado assim?!
Laércio Andrade de Souza.
Laércio Andrade de Souza.
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