terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Tempo de Reflexão

                     Aproxima-se o Natal: tempo de reflexão da vida, das amizades, dos amores perdidos e dos conquistados etc.
                     Nesse tempo, quero manifestar a todos os amigos (as), no face... meu profundo prazer de tê-los comigo, uns em 2017, outros há muito tempo.
                    Tenho amigos de todos os tipos: credos, culturas, profissões e pensamentos políticos!
                   Amigos (as), que 'curtem', 'compartilham' minhas postagens sempre, outros, menos e alguns nada!
                   É natural que num universo de tantos, haja amigos (as) de todo tipo.
Isso é bom...muito bom!
                   É a certeza que cada um tem sua personalidade, seu jeito, modo, maneira de se comunicar nas redes sociais, principalmente no Facebook!
                  Quero agradecer a cada um, indistintamente.
                 Tenho os meus gostos, brincadeiras, comentários, às vezes irreverentes que alguns gostam, outros não!
                 'Mas para que vale um homem? O que ele tem que conquistar, se não disser as coisas que sente...'                       
                 Como na letra da música MAY WAY, magnificamente interpretada por Frank Sinatra, música e letra que gosto muito!
                Quero renovar as amizades de todos (as), para 2018, certo que, as possíveis controvérsias de idéias, credos, preferências políticas etc. não influeciarão o que tanto conquistamos!
                 Que nesse tempo de reflexão, de ação e oração, reconciliação e perdão seja para todos (as) , de vida, amores, paixões, lutas...
               FELIZ NATAL e próspero ANO NOVO, são os votos do amigo LAÉRCIO ANDRADE DE SOUZA.



quinta-feira, 11 de maio de 2017

MEU TIO, A ORIGEM DO DINHEIRO E A DELAÇÃO MAIS QUE ‘FORÇADA’ NA DÉCADA DE SESSENTA

MEU TIO, A ORIGEM DO DINHEIRO E A DELAÇÃO MAIS QUE ‘FORÇADA’ NA DÉCADA DE SESSENTA.
Laércio Andrade de Souza
Era comum nas décadas de 60 e 70, os governadores nomearem os delegados e subdelegados para os respectivos municípios e distritos.
Nomeavam também os ‘juízes de paz’, que juntos com os delegados, subdelegados e donos de cartórios comandavam as respectivas comunidades. Eram pessoas muito influentes e que decidiam assim os casos e ‘causos’ que lhes chegavam.
Eram requisitados, geralmente dentre os parceiros políticos do governador, e/ou a pedido de deputados aliados a este durando até a mudança da política, quando alguns permaneciam e outros eram sumariamente demitidos face a alteração política.
E a escolha para subdelegado de ‘Serrinha’ – vila pertencente ao quarto distrito de Bom Jesus do Itabapoana – coube a meu tio ‘Filinho’, como era conhecido e, cabo eleitoral do antigo PTB, que fazia o contraponto com os ‘Motas’, do antigo PSD, partido contrário ao então governador Roberto e Badger Silveira e que se digladiavam durante as eleições.
Certo dia apareceu na localidade, um cidadão carioca com trejeitos de malandro, andando de lá pra cá, no pequeno povoado com aquele jeito de ser e falar.
Eu estava na varanda da fazendola, visitando minha inesquecível e adorável vó Balbina, quando o cidadão apareceu procurando por tio ‘filhinho’. Queria fazer uma denúncia!
Disse ele ao meu tio: ‘Doutô', me roubaram 100.000,000 milhões de cruzeiros (cerca de cem mil reais hoje) que trouxe do Rio e queria que o ‘sinhor’ (sic), como ‘otoridade’ máxima desse lugar descobrisse o ladrão’.
Interessado, na conversa de adultos, e com doze para treze anos de idade, passei a acompanhar não só a conversa, mas a atitude de meu tio, cuja função admirava, pois entre outras coisas, portava um revólver branco da marca Smith, cabo de madrepérola, na cintura, bem à vista de todos.
Tio ‘filinho’, após o relato do denunciante, calmamente, chamou o ajudante de ordens (um bate-pau do subdelegado), e disse:
- Prenda esse sujeito lá no cubículo!
Apavorado e surpreso, o ‘carioca’, perguntou ao tio:
-Por que o senhor está me prendendo, já que eu fui o ‘roubado?’
Tio ‘filhinho’ nada disse... nada respondeu! Se limitou a tirar da gaveta um enorme cadeado (daqueles que trancavam as porteiras da fazenda), juntamente com compridas correntes e mandou o infeliz para o ‘xilindro!’
O cubículo, onde o ‘carioca’ ia ficar detido (cerca de 200 metros da casa da vovó Balbina, onde o tio morava) era feito de pranchões fincados mais de metro adentro, no solo encharcado com muita água e umidade e sem lugar até para o cara fazer as ‘necessidades fisiológicas básicas’ e/ou mesmo, sentar-se ou dormir! Parecia mais uma pocilga!
Era praticamente impossível fugir de lá!
De hora em hora, o ‘carioca’, aos berros e manifestamente apavorado implorava por sua soltura. Mas tio ‘filinho’, nenhuma atitude!
Aquilo me incomodava muito, posto que, criança, ficava perplexa de quando o tio iria soltar o pobre ‘diabo!’ Afinal seria ele a vítima do furto, como argumentara, em sua denúncia ou tinha forjado uma farsa sobre o desaparecimento do dinheiro?
Depois de muitas perguntas, e já no outro dia, posto que o indigitado denunciante passara a noite toda no insalubre cubículo, o tio subdelegado, mandou trazer, a tardinha, o pobre ‘lesado!’ a sua presença e disse:
-Eu vou soltá-lo depois que você falar quando, como e onde foi furtado e como arrumou esse dinheiro todo, como alega.
Ele, de perfil simples, para não dizer, simplório, ficou todo enrolado e disse depois de muita reticências, ‘confessou’ para tio ‘filhinho’:
-Na verdade, inventei essa história, pois queria ‘descolar’ algum dinheiro dos comerciantes e políticos locais, pois as pessoas da roça são sensíveis aos que perdem tudo!
Tio ‘filinho’ mandou o ‘bate-pau’ (ajudante de ordens), desamarrar o infeliz, dando-lhe dez minutos para que ele desaparecesse da vila, senão sua prisão poderia alongar-se por meses.
O ‘carioca’, correu como numa competição olímpica, desaparecendo na direção da estrada de chão batido que dava acesso a estrada principal’, que era mais ou menos de 10 quilômetros.
Nunca eu tinha visto alguém correr tanto!

Lembrei-me dessa história, face um amigo, influente jornalista, dizer que um conhecido político ‘iria fazer um investimento de Rs. 15 milhões de reais numa hidroelétrica no Rio Muriaé!’ (sic).
Primeiramente pensei: o rio Muriaé já não tem quase água para preencher o seu leito ainda mais para comportar uma hidroelétrica! Depois, o investimento é muito alto pelas ‘posses’ do ‘investidor’, numa área tão conturbada e de grande competição e dificuldades de aprovação de projetos, análise de impactos ambientais etc. como a de geração de energia elétrica hidráulica.
Contei a ele a história do tio ‘filhinho’, pois primeiro precisaria prender esse ‘investidor’ até que ele falasse a origem dos 15 (quinze) milhões, principalmente com o país com sérios problemas econômico-financeiros.
Faria, depois de uns dias num ‘cubículo’ que poderia ser em Bom Jesus do Itabapoana ou mesmo no de Itaperuna uma delação mais que premiada: forçada!
Creio que ele se mandaria da cidade para o bem de toda a comunidade, ou correria até o Amazonas, Pará etc. onde pelo menos há fartura de água!
O autor é contista e cronista da Academia Itaperunense de Letras (cadeira ‘14’.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O boi pintadinho

Laércio Andrade de Souza

                                   Seu ‘Nestor’ (vamos chamá-lo assim), era uma figura enigmática. Diria,
‘indecifrável’ em seus gestos, gostos e atitudes, divertimentos.  Ninguém sabia do que ele gostava como diversão, já que era por demais ‘sisudo!’.
                                  Sistemático ao extremo, vestia (fosse calor ou frio) camisas de mangas compridas abotoadas das mangas ao pescoço (como aquelas golas de padres) que tanta aflição causa a muita gente.
                                 Deixava para fazer suas comprar (fumo de rolo, sal de cozinha e querosene), ao anoitecer, na vendinha do senhor ‘Nalinho’, onde meu irmão trabalhava, junto com outro ‘caixeiro’, muito gozador, chamado Paulo Salvador.
                                 De ‘salvador’, não tinha nada!  Era’ tolerado’ no emprego por ser sobrinho do dono e exímio jogador de futebol do ‘LIBERDADE ESPORTE CLUBE’.
                                Sua  ‘especialidade’, entretanto, era a de grande ‘gozador’ e de criar situações  inusitadas que causavam risadas e incorporavam ao anedotário da pequena vila de Carabuçu – quarto distrito de Bom Jesus do Itabapoana-rj, nossa terra natal.
                               E ele observando o tom diferente de seu Nestor, decidiu investigar o que este gostava como diversão, posto que,ninguém  sabia nada sobre o enigmático senhor. Apenas que trabalhava semana inteira na roça, pouco falando, pouco dialogando com quem quer que seja.
                                Mas Paulo ‘descobriu’ certa feita, que  a ‘armação’ do ‘boi pintadinho’ era feita , na roça, casa do sr. Nestor, com recursos de seu conhecidos e colegas de trabalho.
                                 Era construída com ‘taliscas’ de bambu e forrada com um tecido chamado de ‘chita’. Abaixo do ‘boi’ tinha um lugar específico para acomodar os ombros da  pessoa que iria ‘sambar’, no dia da festa da vila, no meio da multidão (!),(parecia que todos os habitantes) iam ver o tal ‘boi pintadinho’ nas proximidades da venda,  rodeado por ‘mulinhas’ (denominação das pessoas que rodeavam o ‘boi’ para não deixar ninguém se aproximar ou incomodar a dança do ‘boi’, nem saber quem estava por ‘debaixo dos panos’ que o cobria).
                                  E a dança ‘esquentava’, às vezes, por horas!
                                 O ponto alto da apresentação do ‘boi’ era quando, após dançar, por mais de hora, era o momento da ‘cantoria’, onde as pessoas faziam pergundas e o ‘boi’ as respondia repentinamente!
                               As mais comuns eram: ‘Esse boi é pintado?’, ao que o enigmático seu ‘Nestor’ respondia: ‘É sim senhor!’.
                               E a plateia continuava: ‘Esse boi é malhado?  ‘É sim senhor!’ – respondia o boi com a voz alterada e cadenciada do Sr. Nestor.
                            Paulo,’ o salvador’, tudo assistia de dentro da venda e ‘bolava’ mais uma de suas costumeiras gozações!
                            Mas como fazê-la, em tom anônimo, jocoso e perturbador, sabendo que debaixo do ‘boi’, estaria o sistemático/enigmático, desconhecido da assistência. O incrível,  senhor. ‘Nestor?
                             Observando ‘Matola’, um inveterado e costumeiro  bebedor de cachaça na venda, Paulo encontrou a solução mais própria para ocasião.
Disse a ‘Matola’:  ‘Se você fizer uma pergunta (logo após as costumeiras perguntas ao’boi’,  na hora da ‘cantoria’, eu te darei uma boa dose de cachaça ‘Matinhos’ (a melhor da época) , acompanhada de um bom pedaço de salame, o que ‘Matola’ adorava para ‘tira-gosto’.  
                            Interessado na pinga, ‘Matola’ não se conteve: ‘Diga aí o que eu tenho que fazer!’
                         Paulo deu  as coordenadas: ‘Na hora das perguntas, você em ‘alto e bom som’, escondido na ‘sacaria’ de arroz e milho que se acumulava próximo à venda,  vai dizer após as perguntas e respostas clássicas, como: Esse boi é malhado?...  dizer assim: ‘Esse boi é viado?’
                          - Nunca, respondeu seu ‘Nestor’, debaixo do da armação do ‘boi pintadinho!’ . E loucamente enfurecido, jogou a armadura do ‘boi’ ao chão e respondeu com extrema raiva.
                           -Nunca... nunca  esse ‘boi’ será ‘viado!’
                             E sacando do bolso traseiro um  gigante canivete ‘cabo de osso’, com que cortava as unhas dos pés, cascos dos cavalos e demais equinos ,  e usava para preparar pacientemente  seu cigarro de’ fumo de rolo’, adentrou agitadamente  para dentro da venda em busca do autor da ofensiva e maliciosa pergunta, ouvida por todos os presentes que caíram em gargalhadas sem fim.
                            ‘Matola, embora meio ‘grogue’,  se escondeu no meio da ‘sacaria’ de arroz e milho, safando-se de uma  canivetada que poderia ser mortal, tal o ódio de seu ‘Nestor’ em ser comparado a um ‘viado’, já que na roça ninguém perdoaria alguém ser homossesual.  Pois, afinal era ele a figura representativa do folclórico ‘boi pintadinho’.  Além do mais, ao ver desvendada sua  única diversão, única fantasia,  até  então cercada do maior sigilo possível.
                              Narra-se essa história, não só por causa da ‘gozação’ que causou em quase toda população carabucense, mas para demonstrar que todas as pessoas tem suas formas de divertir,  fantasias (até mesmo sexuais!) só que muitos  primam pela negativa e/ou,  anonimato  obedientes a  natural privacidade.
                              Mas, cuidado! Pode aparecer um ‘Paulo Salvador!’ e...
                              O autor é membro fundador da Academia Itaperunense de Letras, presidente emérito, ocupando a cadeira ‘14’, que tem como patrono local, o pe. Hubert Lindelauf e Alceu Amoroso Lima, como referência nacional.


                                                    
   

                      

sexta-feira, 17 de março de 2017

Crônica de uma pregação (mal/bem) sucedida.
             Laércio Andrade de Souza.
                                          Era uma dessas  alunas que mexem com as fantasias de qualquer professor, principalmente, jovem!
Alta, esguia, morena e bem falante. ‘Pecava’ pelo seu trajar, envolta num vestido que descia aos pés!
Os colegas falavam que era exigência da sua denominação. As evangélicas, desta tinham que se vestir ‘adequadamente’, para não despertar o mínimo de sensualidade. Nada de joelhos à mostra!
Sua entrada na sala de aula, despertava na garotada manifestações mais variadas. Desde um assobio (muito comum à época!), até as mais ousadas, como: “entrou a crente ‘boazuda etc. etc.
Como ‘austero’ professor de latim, não poderia deixar de repudiar as manifestações dos alunos, manter a disciplina e tocar a matéria, nada fácil de ensinar e/ou despertar interesse.
‘Vamos à próxima declinação!’ – asseverava, como forma de ‘conter’ a empolgação com a entrada da bonita aluna, que não sei o porquê, chegava sempre atrasada!
‘MC’, vou dizer só as iniciais (ela possivelmente está muito viva possivelmente ‘pastoreando’) não perdia nenhuma oportunidade para tentar falar alguma coisa da bíblia, que educadamente, ‘repudiava!’, dizendo: ‘Aqui é sala de aula, não Igreja!’ ‘Vamos conversar em outra oportunidade’.
Mas ‘MC’ era por demais  insistente!
De quando em quando, voltava ‘a carga’ com citações da bíblia.
‘Professor, o senhor sabia que Cristo era um grande professor?
-Sei!’ Respondia, secamente para evitar o prolongamento da conversa, ‘evangelização e/ou catequese’, sei lá!
Mas, suas atitudes evangelizadoras, chamavam a atenção, não só dos meninos/meninas, mas também do professor que lhes escreve.
Certo dia, meio chateado, mas também curioso, respondi, num intervalo da aula,  a uma pergunta dela.
Perguntou-me se podia falar coisas da Bíblia, comigo, em outro lugar!
Acedi! ‘Vá ao meu escritório, onde preparo minhas aulas!’ Na época, ocupava uma das salas do Edifício ‘Rotary Club’ de Itaperuna, com esse nome, posto que fora idealizado e construído por rotarianos (essa ‘maçonaria branca’),  como a definia o saudoso padre alemão Higino Latteck! e que tive a honra de pertencer por um tempo, influenciado por minha esposa, que queria que eu substituísse seu pai, um grande rotariano.
Num sábado outonal, pela manhã, eis que chega deslumbrantemente ‘MC ao meu escritório’, portando uma bíblia, folhetos e outras coisas mais.
Sacanamente, pensei: ‘Hoje você pode pregar a vontade, pois aqui estou longe de meu reduto professoral, e ‘isento’ de qualquer falatório malicioso/tendencioso’ dos demais alunos. Uma conversa particular!
Ela, rapidamente,  começou: ‘O professor já ouviu ou leu um salmo de Davi?
‘Aquele sacana, que mandou seu general para guerra para ficar com a mulher dele? Respondi.
Ela percebeu que eu tinha alguns ‘conhecimentos’ bíblicos, fruto de minha infância de ‘coroinha’ de um padre tradicionalista, por sinal um santo sacerdote, que já partiu.
E ela falava, falava, e eu, solteríssimo, descompromissado, prestava mais atenção nas poucas silhuetas que  seu corpo coberto permitia, que nas pregações, adredemente preparadas.

De olhar fixo, em sua beleza, não prestava muita atenção no que ela dizia. Estava mais focado em sua beleza física que em sua catequese!
E prosseguia: ‘Professor, o senhor sabe da atuação das mulheres na bíblia, como Ester... Madalena etc. etc.
‘Madalena’ foi salva por Cristo, do apedrejamento face o machismo predominante na época e que hoje ainda persiste!’ Asseverei.
Divagando, e com o pensamento em outras coisas, respondia aleatóriamente: ‘Sim, eram interessantes!’
‘E Dalila?’ Aquela que cortou o cabelo de Sansão? Despistei.
‘É, foi um caso de traição, mal resolvido!’ Objetei. ‘Mas ele não era filho de Davi?’ Aquele que falamos lá atrás?’
‘Vou ler uma passagem do Cântico dos Cânticos’ apelava, certamente vendo minhas ‘terceiras’ ‘quartas’  intenções!
“Vem meu amado, vamos ao campo...'
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‘Lá te darei meu amor...!’ Décimo poema.
Aí, não aguentei: ‘Isso não é de Salomão, aquele filho de Davi, fruto da relação com a mulher de seu general?
‘Não professor, não é bem assim!’
Então... Não estou entendendo nada!
Aliás, desde o começo!
‘Já não sei o que faço, ou o que o coração me diz...’ como na canção de Júlio Iglesias!
Mas como ‘cantar’ aquela ‘crente’, tímido e ainda mentalmente policiado pelo respeito que restava  do ‘austero’ professor de latim?
Como extravasar aquele desejo incontido de ‘namorar’ uma evangélica, uma daquelas ‘taras’ juvenis?
Ficaria tudo ‘sacramentado’, como dizia um amigo meu, de aventuras juvenis!
Mas descobri, no final da história, que ela não estava tanto com ‘aquela vontade exacerbada de me evangelizar’.
Estava certamente, ‘apaixonada’ (sic) pelo professor! O que não é incomum na adolescência.
Houve outros encontros, outras pregações, ‘evangelizações’. Mas o final da história deixo ao sabor da interpretação do amado leitor(a).
Josepha, ainda não tinha me ‘catequisado!’
O certo, e disso estou certo, que o desejo de ‘namorar uma evangélica daquelas’, persiste, não como um ‘trauma’ mas uma incontida tentação de ver tudo ‘sacramentado’, catequizado,  e sacanamente realizado, como insistia meu amigo de aventuras juvenis.
Mas o que posso adiantar, é que foram manhãs e jovens tardes inesquecíveis de outono.
                                               Itaperuna, 06 de março de 2017.


                                               O autor é cronista e membro da academia itaperunense de letras.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017


'Para terdes uma idéia de vossa importância na restauração de um pais, permitam-me que num relance histórico eu me volte para um célebre episódio:

Conta-se que numa reunião de sábios na antiga Grécia, discutiu-se a sorte de um estado que ameaçava ruína. Uns sugeriram modificações das instituições, outros nova demarcação de fronteiras, outros substituição dos funcionários públicos e as mais prodigiosas e radicais fórmulas de se solucionar o problema.

Quando, Demóstenes, tomando um fruto apodrecido à mão, assim exclamou: este é o estado que discutimos. E deixou-se cair ao solo esborrachando-se.

Então, caro colega – inquiriu um dos presentes – a república não tem solução. E Demóstenes abaixando-se apanhou uma minúscula semente que havia se separado do pericarpo apodrecido e disse: Aqui esta a salvação da república. A germinação desta semente dará uma nova, rija, grande arvore. Esta semente é a juventude esta semente sois vós alunos do São José.

Embora a nossa república não esteja totalmente deteriorada – melhor ainda – mas mesmo assim estivesse a solução seria vós.


Conjugai, pois todos os vossos esforços. Pondo desde logo vossa mocidade a SERVIÇO DA PÁTRIA, estudando reverenciando-a falando a verdade e estareis ajudando a construir também o BRASIL GRANDE, O BRASIL NOVO, O BRASIL onde reine para todo sempre a bandeira da ORDEM E DO PROGRESSO'.
GINÁSIO SÃO JOSÉ
ITAPERUNA-RJ-
Sr. Diretor do GINÁSIO SÃO JOSÉ;
Srs. Membros da Diretoria da Ass. Ed. São José.
Colegas Professores. Autoridades presentes.
Srs. Pais,
Caros pupilos,
O sentimento que me assaltou a alma, no momento em que recebi vosso convite para paraninfá-los nesta solenidade de formatura da 1ª turma do ginásio São José, não pode ser descrito em simples, modestas, e desconcatenadas palavras. Mas aquele misto de emoção e alegria fez alertar em minha alma do que é capaz a juventude. E eu me perguntava o porque de escolherem a mim, pobre, mortal, e obscuro e quase anônimo professor, para tão grande honrosa e sublime missão. Senti-me por uns momentos que o meu trabalho estava cem por cento realizado. Mas pura e doce utopia, ainda há muito o que fazer, muito que aperfeiçoar. E depois de minutos de reflexão, achei afinal a versão mais certa para minha escolha.
É senhores, que a juventude peca muitas vezes pelo excesso. E foi num desses caprichos pueris que me trouxe até a esta tribuna para numa alegria impar e irradiante proferir o que considero meu último pedido, minha última aula como vosso professor e o meu sincero adeus.
Porque hoje, caros pupilos, não nos despedimos como num final de uma semana letiva. Não nos despedimos por 30 dias como nas férias de julho ou por 3 meses como no final de um ano letivo. Despedimo-nos de um peque: no colégio que foi grande para nós, um colégio que vê hoje consolidado sua 1ª e gloriosa etapa como educandário protótipo itaperunense. Que traz o nome de um santo e as bênçãos de DEUS; e que numa reunião fraterna traz a alegria dos pais e o abraço amigo dos paraninfos e o sorriso meigo dos mestres.
Mas não estranhem que nesta altura de minhas palavras eu vos diga que vossa solenidade está incompleta. De certo com os olhos inquiridores e atônitos voltarão para mim. Mas por que incompleta?. Não terminamos brilhantemente nosso curso? Não fomos aprovados? O nosso ginásio não está oficializado? Não temos um paraninfo?
Mas com todas essas inquirições merecedoras das minhas mais sinceras assertivas, eu ainda me atreveria a dizer-vos que esta solenidade está incompleta. Incompleta ela está porque falta aqui um idealista, e onde falta o ideal desmorona todas as bases de realizações. Falta-nos HUMBERTO LINDELAUF. , figura responsável por toda esta glória e brilhantismo que hoje experimentais. Esse homem que conseguiu síntese prodigiosa reunir o IDEALISMO E AÇÃO. E neste amálgama difícil elevar Itaperuna não só no restrito âmbito educacional secundário mas em todos os sentidos até ao âmbito universitário.
Mas tudo, caros paraninfados, tudo segue aquele ciclo que repetidas vezes aludi em minhas aulas de ciências: nascer, crescer, reproduzir e morrer. E Humberto Lindelauf supriu muito bem seu ciclo vital.
Nasceu, cresceu, reproduziu Itaperuna e finalmente morreu.
Caros alunos, tentemos esquecer o inesquecível e voltemos para nós. Como vos disse quero pela vez-última fazer destas minhas palavras também o meu último pedido como vosso professor e proferir o que considero MINHA ÚLTIMA AULA, e a minha sincera despedida.
CAROS ALUNOS,
O paraninfado inculca a idéia etimológica e festiva de um noivado. Nos tempos antigos, como sabeis, e na moderno perdura o costume. Paraninfo era aquele que entre harmonias e flores acompanhava os noivos desde o lar paterno ao lar nupcial.
AQUI, portanto, neste salão triunfalmente repleto, aqui paira um noivado místico e inefável noivos são os vossos espíritos moços, caros pupilos, e a noiva que outra pode ser senão a VERDADE.
Dizei, ó jovens alunos do SÃO JOSÉ, quem vos levou a deixardes a liberdade e as doçuras da casa materna pelos muralhões severos do Ginásio? Quem vos fez trocar os lampadários e as harmonias dos saraus alegres, essa lâmpada solitária e muda das vigílias estudiosas? Por quem foi que proferistes ao fantasiar quimérico da adolescência, a meditação grave e metódica das ciências e letras? Por quem, senão pela verdade, por essa verdade que vos falava nos lábios dos vossos mestres, sorria-vos dentre as laudas dos livros e alvorecia nos horizontes das vossas lucubrações austeras?
Eu te saúdo, pois, é noiva dos sábios! VERDADE, que nasceste da mente divina, no instante em que a nebulosa primitiva surgiu dançando vertiginosamente a espadanar no espaço a miríada de mundos, que o povoam..
Salve, ó verdade; tu cujo esplendor é o belo e cujo atrativo é o bom. Tu que és a luz das inteligências e o encanto das vontades; tu que no cérebro te chamas ciência, e no coração te nomeias virtude.
Salve, ó verdade, salve, supirada noiva de toda alma pensante; tu a noiva de Platão, Aristóteles, Cícero e Sêneca, de Santo Agostinho e Tomaz de Aquino.
Ide pois caros pupilos do São José, ide ao mundo e apresentai de braços dados a verdade. Muito embora, não vos ludibriarei, chocareis com o tremendo e abominável mundo de mentiras. Muito embora ela vos traga aparentes prejuízos, pois as corrupções pululam como vermes num corpo em putrefação em todos os setores da atividade humana. Muito embora ela vos custe a alcunha de bravo ou ponha em perigo o vosso emprego, o vosso desta: que pessoal. Sêde bravos, sim pupilos do São José esposando a verdade, lutando por vossos direitos sem esquecerdes os direitos dos outros.
PARANINFADOS,
Como me referi anteriormente quero ante minha despedida proferir a minha última aula, como vosso professor. Só que hoje, não falarei sobre ciclo vitais, sobre forças, sobre alavancas ou espelhos.
Falarei sobre o vosso dever cívico pra com o Brasil.
Muito se fala hoje em todos os quadrantes de um Brasil novo. Isto não deve ser visto como uma simples utopia ou quimera. Deve-se, porém convir que tudo isso não passa ainda d um grande ideal, flor de um sonho patriótico, belo como os primeiros raios solares lançados sobre as cristalinas fontes. Mas irrealizável se FALTAR VOSSA PARTICIPAÇÃO, a participação da mocidade.
Para terdes uma idéia de vossa importância na restauração de um pais, permitam-me que num relance histórico eu me volte para um célebre episódio:
Conta-se que numa reunião de sábios na antiga Grécia, discutiu-se a sorte de um estado que ameaçava ruína. Uns sugeriram modificações das instituições, outros nova demarcação de fronteiras, outros substituição dos funcionários públicos e as mais prodigiosas e radicais fórmulas de se solucionar o problema.
Quando, Demóstenes, tomando um fruto apodrecido à mão, assim exclamou: este é o estado que discutimos. E deixou-se cair ao solo esborrachando-se.
Então, caro colega – inquiriu um dos presentes – a república não tem solução. E Demóstenes abaixando-se apanhou uma minúscula semente que havia se separado do pericarpo apodrecido e disse: Aqui esta a salvação da república. A germinação desta semente dará uma nova, rija, grande arvore. Esta semente é a juventude esta semente sois vós alunos do São José.
Embora a nossa república não esteja totalmente deteriorada – melhor ainda – mas mesmo assim estivesse a solução seria vós.
Conjugai, pois todos os vossos esforços. Pondo desde logo vossa mocidade a SERVIÇO DA PÁTRIA, estudando reverenciando-a falando a verdade e estareis ajudando a construir também o BRASIL GRANDE, O BRASIL NOVO, O BRASIL onde reine para todo sempre a bandeira da ORDEM E DO PROGRESSO.

DEMOCRATIZAR A JUSTIÇA

                                                                                  Laércio Andrade de Souza


            O povo tem sua concepção própria de justiça como a distribuição eqüitativa de direitos. “O direito de um termina onde começa o de outrem” – dizem, com freqüência. Essa conotação acha-se arraigada no espírito das massas e representa no contexto social o ponto de equilíbrio entre o que julgam justo e injusto, legal e ilegal, certo ou errado, amoral e imoral.

            O estado, reconhecendo a necessidade de ir ao encontro a este anseio, e, por medida de segurança e paz social, criou seu mecanismo de distribuição de justiça a fim de compor conflitos que não lhe interessam e tem assim sua concepção burocrática de “fazer justiça”.

            Só que, como tudo burocrático, esta se faz lenta e gradual, para não se dizer estritamente “lerda”.

            Já se disse que a justiça é lenta porque tem de ser formal!...

            O que assistimos em quase todo o país é uma lentidão “tão lerda”, tão aguçada que vai às raias do comprometimento da segurança do próprio estado, posto que, o retardamento dos processos e procedimentos traz a descrença na população e choca o seu sentimento mais puro de equitatividade, gerando violência.

            A não resolução, a tempo, das contendas é fator de insegurança e fomentadora de novos conflitos. O interessante é que o centro do poder judiciário – os responsáveis imediatos pela agilização da justiça neste país sabem dessa notória constatação e, quando muito, debitam a outro poder as causas do desarranjo a que o contribuinte está adredemente subordinado.

            A solução é política. O juizado de pequenas causas é uma faceta de como o problema pode ser atacado. Mas, toda solução política depende, sobretudo do debate, da aglutinação de forças, da convergência de vontades para resolver o problema no seu ponto estrutural e não superficial.

            Está comprovado que pouco adianta a duplicação do número de magistrados ou de seus vencimentos para dar agilização aos processos, porque eles dependem de toda uma estrutura de serventias bem equipadas, oficiais de justiça bem treinados e pessoal de apoio, para bem cumprirem seu papel.

            E, os juizes inferiores, representantes do judiciário mais próximo do povo, são os que mais amarguram com o problema da lentidão da justiça. A sociedade cobra solução dos advogados, que, cobram com veemência dos juizes e que muitas vezes não podem distribuir a contendo, uma justiça rápida com decisões boas e bem fundamentadas.

            Dir-se-á que o Brasil é um complexo de necessidades: educação, saúde, justiça, saneamento básico etc. uma imensa lista de prioridades à espera de soluções ainda não encontradas. Mas a prioridade da justiça defluiu mais imediata do que muitos problemas também prioritários do povo brasileiro.

            É preciso sacudir a atual estrutura do judiciário brasileiro para ver o que fica em pé após o balanço e reordená-lo antes que a convulsão social se estabeleça. A Constituição foi um passo. Mas a Constituição precisa de leis complementares e de atitudes para que possa efetivamente entrar em vigor.

            Antes não se acreditava na Polícia, hoje desacredita-se enormemente da justiça queimando a imagem dos advogados, juízes (principalmente os inferiores), procuradores e promotores de justiça, defensores públicos e de quantos lidam com a Lei.

            É urgente que a cúpula da justiça desça às bases para que a solução possa emergir destas e não de mais um código judiciário ou de outra Lei Orgânica ou complementar sem auscultar o povo.

            Que se discuta com o povo através de suas representações mais legítimas, associações de classe, clubes de serviços, prefeituras, sindicatos, entidades religiosas as soluções possíveis e cabíveis de procedimentos adaptáveis ao nosso nível e estágio de desenvolvimento social. De que valem cópias de organizações judiciárias alienígenas se a realidade é outra, se as pessoas são outras? É necessária uma justiça tupiniquim!...

            Falar só em verbas falta de verbas, má distribuição de recursos etc., é uma desculpa de quem não tem criatividade política.

            A solução é democratizar a própria organização da Justiça brasileira  antes que o povo faça uma GREVE GERAL contra ela. Neste dia, que esperamos não ocorra, não haverá mais justiça, pois a Instituição desmoronou!

(O autor é advogado militante na Justiça de Itaperuna-Rj)


(FONTE: Jornal do BRASIL, Itaperuna-Rj, 26-03  A 1-04-1989)