UM CRIME HEDIONDO?
Laércio Andrade de Souza
Atribui-se a
Vargas o seguinte comentário, quando instituiu o concurso público: ‘Estou
criando uma forma de seleção para acesso
ao funcionalismo público, contra a qual muitos se rebelarão e procurarão
fraudá-lo’.
Se as palavras do grande estadista foram essas não sabemos!
O certo, e disso estou certo, que fraude existiu, existe e existirá, pois é da
natureza humana , o desejo de violar leis, regras, procedimentos e caminhar
pelas portas largas da facilidade!
Mas se assim é, por
que o teor do título do artigo pregando a hediondez dessa violação, se está
arraigada em todos os setores, desde as seleções mais modestas até as mais
importantes, como na carreira jurídica, seleção de magistrados, pretendentes a vagas
em universidades,
tanto públicas como particulares, cargos na união, estados e
municípios etc. etc.
É porque a violação, a ‘compra e venda’, apadrinhamento de membros das famosas
‘bancas’, traz um prejuízo incalculável não só aos examinandos-pretendentes ,
como a toda a família, estendendo aos círculos de amizade, envolvendo não só o
emocional do pretendente mas também o
moral, o financeiro das famílias.
Quantas noites indormidas,
quantos investimentos em cursinhos, livros , sonhos desfeitos,
destruídos por uma nefasta influência de quem estudou menos mas tinha mais dinheiro para ‘comprar’ a vaga pretendida?
Também: Quanto choro, lágrimas do ‘perdedor’, reza ou oração
dos pais, avós, parentes e todos os que torceram para o sucesso do pretendente
lesado?
Mas certamente, dirão: ‘Mas isso é exceção, doutor!’ Os concursos, principalmente vestibulares,
carreiras jurídicas... são sérios e não se deve
tocar nesse ponto que pode causar
incertezas e, até de certo modo. causar perplexidades e culminar com o mito da ‘desmoralização!’
Ora, caro leitor, tem coisas tão sérias, tão chocantes e
inusitadas que transcendem a simples escapatória da excepcionalidade.
Explico: Quando, há anos, denunciei notícia de fraude em determinado
concurso, um velho desembargador, disse-me: ‘Mas é um caso isolado meu jovem!’
Ao que retruquei: ‘Mas não deveria ter nenhum!’
O mesmo se repetiu no caso de corrupção nos Tribunais, com
venda de sentenças, influências políticas nos julgamentos, até em Tribunais
superiores, denúncias infundadas, tráfico de influência etc. Tudo visto com ‘certa’ normalidade por
alguns!
‘Exceções, mais exceções’.
Como observa, o caro leitor,
centrei com mais contundência , minhas observações no âmbito jurídico, mas
acontece em quase todos os concursos e seleções!
Fórmulas mirabolantes são
‘fabricadas’ para fraudar ‘legalmente’ concursos , são organizadas por empresas
contratadas, principalmente por prefeituras interioranas!
Coisas inimagináveis aos olhos
dos leigos!
Pior: Tudo sob o manto da
‘legalidade’ como nas licitações fraudulentas.
Difícil descobrir onde está a
manipulação!
Exemplifico: Em determinada
prefeitura que há anos assessorei juridicamente, um representante graduado da
empresa que estava para ser contatada
para realizar a seleção, dirigiu-se ao secretário de gabinete e da fazenda,
perguntando:’ Quais os candidatos o prefeito tem interesse de passar?’
- Mas como isso pode ser feito,
interpelou um dos secretários?
- Ora, isso é com a gente! Existe
formas e fórmulas! Isso é com a gente!
Retirei-me, enojado, do recinto e disse ao prefeito que não estava
na ‘reunião’, e a pedido meu,cancelou a pretendida firma ‘especializada!’ em
seleções fraudulentas.
Um dos’ macetes’ era a atribuição
de pontos nas provas de títulos. Consistia em verificar, previamente, quem na
área de abrangência do concurso, ou dos possíveis candidatos, tinham pós-graduação, mestrado, doutorado etc.
Outra, era a de atribuir, no
edital,’ salário bem pequeno’ para não atrair concorrentes das grandes cidades.
Depois de ‘selecionados’ os afins do prefeito, vereadores e secretários, era
enviado projeto à Câmara de Vereadores
aumentando os vencimentos, após a posse!
E provas orais?
Essas dispensam comentários!
Também a ‘fórmula’ clássica de um
‘professor’ ou pessoa de maior conhecimento passar pelo verdadeiro pretendente
ao cargo ou vaga, apresentando a carteira de identidade do candidato e como
tal!
Hoje, a coisa ficou mais sofistificada
com os ‘chipes’ mensagens ‘cifradas’ e
um infernal número de possibilidades que a informática apresenta!
Fala-se até na violação de ‘urnas
eletrônicas!’
Quem não se lembra do exemplo
clássico na eleição de Brizola, quando
uma firma foi acusada de manipular o resultado das eleições para governador do
Rio?
O velho Vargas vaticinou com
razão!
Muitas coisas ainda estarão por vir!
Mas escrevo isso, não para
desanimar os ‘concurseiros’ mas
alertá-los que o ‘diabo’ existe, mesmo que para uns, seja excepcional sua
‘existência!’
Muito estudo, porque ainda
acreditamos na seriedade, na honestidade de muitas Instituições que são também
vítimas dessa hediondez.
Orai, estudai e vigiai, para não
serem contaminados pelo pessimismo!
Se um concurso tiver dez vagas,
lutem pelos três primeiros lugares. Você pode não conseguir essa classificação
mas terá mais chance de não ser atingido pelos fraudadores!
O
autor é advogado, professor e escritor.
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