terça-feira, 28 de julho de 2015

CRIME HEDIONDO

 UM CRIME HEDIONDO?
                                             Laércio Andrade de Souza
         Atribui-se a Vargas o seguinte comentário, quando instituiu o concurso público: ‘Estou criando  uma forma de seleção para acesso ao funcionalismo público, contra a qual muitos se rebelarão e procurarão fraudá-lo’.
Se as palavras do grande estadista foram essas não sabemos!
O certo, e disso estou certo, que  fraude existiu, existe e existirá, pois é da natureza humana , o desejo de violar leis, regras, procedimentos e caminhar pelas portas largas da facilidade!
Mas se assim é,  por que o teor do título do artigo pregando a hediondez dessa violação, se está arraigada em todos os setores, desde as seleções mais modestas até as mais importantes, como na carreira jurídica,  seleção de magistrados, pretendentes a vagas em universidades,
tanto públicas como particulares, cargos na união, estados e municípios etc. etc.

É porque a violação, a ‘compra e  venda’, apadrinhamento de membros das famosas ‘bancas’, traz um prejuízo incalculável não só aos examinandos-pretendentes , como a toda a família, estendendo aos círculos de amizade, envolvendo não só o emocional do pretendente  mas também o moral, o  financeiro das famílias.
Quantas noites indormidas,  quantos investimentos em cursinhos, livros , sonhos desfeitos, destruídos por uma nefasta influência de quem estudou menos mas tinha mais   dinheiro para ‘comprar’ a vaga pretendida?

Também: Quanto choro, lágrimas do ‘perdedor’, reza ou oração dos pais, avós, parentes e todos os que torceram para o sucesso do pretendente lesado?
Mas certamente, dirão: ‘Mas isso é exceção, doutor!’  Os  concursos, principalmente vestibulares, carreiras jurídicas... são sérios e não se deve   tocar nesse ponto que pode causar incertezas e, até de certo modo. causar perplexidades e culminar com o mito da  ‘desmoralização!’
Ora, caro leitor, tem coisas tão sérias, tão chocantes e inusitadas que transcendem a simples escapatória da excepcionalidade.
Explico: Quando, há anos,  denunciei notícia de fraude em determinado concurso, um velho desembargador, disse-me: ‘Mas é um caso isolado meu jovem!’ Ao que retruquei: ‘Mas não deveria ter nenhum!’
O mesmo se repetiu no caso de corrupção nos Tribunais, com venda de sentenças, influências políticas nos julgamentos, até em Tribunais superiores, denúncias infundadas, tráfico de influência  etc. Tudo visto com ‘certa’ normalidade por alguns!
‘Exceções, mais exceções’.
Como observa, o caro leitor, centrei com mais contundência , minhas observações no âmbito jurídico, mas acontece em quase todos os concursos e seleções!
Fórmulas mirabolantes são ‘fabricadas’ para fraudar ‘legalmente’ concursos , são organizadas por empresas contratadas, principalmente por prefeituras interioranas!  
Coisas inimagináveis aos olhos dos leigos!
Pior: Tudo sob o manto da ‘legalidade’ como nas licitações fraudulentas.
Difícil descobrir onde está a manipulação!
Exemplifico: Em determinada prefeitura que há anos assessorei juridicamente, um representante graduado da empresa que estava para ser  contatada para realizar a seleção, dirigiu-se ao secretário de gabinete e da fazenda, perguntando:’ Quais os candidatos o  prefeito tem interesse de passar?’
- Mas como isso pode ser feito, interpelou um dos  secretários?
- Ora, isso é com a gente! Existe formas e fórmulas! Isso é com a gente!
Retirei-me, enojado,  do recinto e disse ao prefeito que não estava na ‘reunião’, e a pedido meu,cancelou a pretendida firma ‘especializada!’ em seleções fraudulentas.
Um dos’ macetes’ era a atribuição de pontos nas provas de títulos. Consistia em verificar, previamente, quem na área de abrangência do concurso, ou dos possíveis candidatos,  tinham pós-graduação, mestrado, doutorado etc.
Outra, era a de atribuir, no edital,’ salário bem pequeno’ para não atrair concorrentes das grandes cidades. Depois de ‘selecionados’ os afins do prefeito, vereadores e secretários, era enviado projeto  à Câmara de Vereadores aumentando os vencimentos, após a posse!
E provas orais?
Essas dispensam comentários!
Também a ‘fórmula’ clássica de um ‘professor’ ou pessoa de maior conhecimento passar pelo verdadeiro pretendente ao cargo ou vaga, apresentando a carteira de identidade do candidato e como tal!


Hoje, a coisa ficou mais sofistificada  com os ‘chipes’ mensagens ‘cifradas’ e um infernal número de possibilidades que a informática apresenta!
Fala-se até na violação de ‘urnas eletrônicas!’
Quem não se lembra do exemplo clássico na eleição de  Brizola, quando uma firma foi acusada de manipular o resultado das eleições para governador do Rio?
O velho Vargas vaticinou com razão!
Muitas coisas ainda estarão  por vir!
Mas escrevo isso, não para desanimar os ‘concurseiros’  mas alertá-los que o ‘diabo’ existe, mesmo que para uns, seja excepcional sua ‘existência!’
Muito estudo, porque ainda acreditamos na seriedade, na honestidade de muitas Instituições que são também vítimas dessa hediondez.
Orai, estudai e vigiai, para não serem contaminados pelo pessimismo!
Se um concurso tiver dez vagas, lutem pelos três primeiros lugares. Você pode não conseguir essa classificação mas terá mais chance de não ser atingido pelos fraudadores!

                                              O autor é advogado, professor e  escritor.








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