Subir uma montanha nada tem de singular. Mas foi o que fiz no último dia 15 do corrente.
Antes passei, em Carangola, terra do amigo Randolfo Gomes e de tanta gente famosa, como Victor Nunes Leal, ministro cassado do Supremo e autor de um clássico: 'CORONELISMO, ENXADA E VOTO', que releio sempre que me vem á tona acontecimentos e comentários sobre a tão propalada 'reforma política', tão discutida e não realizada!
Prossegui a viagem até a casa da filha Carla - juíza na Comarca de Manhumirim-MG.
Lá pedi que me levasse até o 'Alto Caparaó'. Meio reticente, a esposa Josepha, consentiu, Afinal, seria um almoço, uma visita às partes mais baixas da montanha!
Mas a medida que o carro subia, elas notaram minha 'empolgação' e uma série de perguntas inusitadas e até incompreensíveis para elas sobre 'trilhas', 'cavernas' etc. Pensaram certamente: 'Pirou, aos setenta anos, completados no último dia quatro!'
É que não sabiam que em 1966 tinha estado lá! Jovem e cheio de idealismo, fui levado a conhecer os redutos que seria nossa 'casa' e a luta pela liberdade e democracia!
Tínhamos um grupo em Itaperuna que até 'comicamente' chamavam de 'grupo dos onze' em alusão a tentativa de Brizola em resistir, organizadamente, ao golpe militar de 64.
Certa manhã de 1966, chegou a Itaperuna-rj., um senhor de aproximadamente 50 anos, no escritório que estagiava, para 'falar de política!'. Eu e o titular do escritório, Dr. Olegário Maciel Colly, o recebemos com olhares de desconfiança. Estávamos num período de exceção, onde mais de dois já era 'bando' de esquerdistas, e as conversas monitoradas!
Mas, o politizado senhor, conversou amenidades, e, chegada a hora do almoço, nos convidou a ir com ele até o restaurante do Posto Guanabara, na cidade nova, conhecido bairro de Itaperuna.
Lá, abriu o 'verbo!': 'Vim convidá-los para participar da 'Guerrilha do Caparaó!'
Assustei! E Olegário, ainda mais!
'Esse cara deve ser um espião do DOPS!'
Conversa vai, conversa vem, veio a conta, ao término do almoço!
Olegário, se dispõe a pagar!
O 'senhor', insistentemente recusava que pagássemos 'a bóia', afinal foi ele que convidou!
Mas Olegário, 'piscando' para o garçom não consentiu!
Sem muito entender a 'disputa' me contentei, como estagiário, a me fartar com o 'lauto' restauro.
Mas o convite de visitar Caparaó não resistir! Olegário nada disse e 'saiu' fora.
Mais atrevido, fui levado no domingo seguinte, manhãzinha, num jipe daqueles do tempo da segunda guerra, para a montanha, Simples reconhecimento! Voltei desanimado, e, o 'senhor' notou o meu não interesse pela empreitada.
Despediu, já noite em Itaperuna, e nunca mais ouvi falar dele!
Certamente, tinha me testado e viu que não tínhamos o perfil esperado.
Mas o que me assustou foi a inóspita região, cheia de trilhas, pedras angulares que pareciam resistir a quem as enfrentasse até chegar ao topo que, para o turista, é lindo, principalmente ao amanhecer!
Quarenta e nove anos depois, voltei a montanha!
De lá, momentos de alegria e tristeza: 'Ao passado não se volta jamais!' como na canção 'La Boheme' extraordinariamente interpretada por Giagliola Cinquente!' que retrata a visita a Montmart, anos depois da aventura, no caso, amorosa! É, que lá embaixo, na Av. Paulista e em Copacabana e outros locais preferenciais, cartazes eram erguidos com os dizeres: 'Volta dos militares ao poder! e tantas outras bobagens mais!
Ao descer, já num terreirão tomando um cafezinho típico da região, parodiei uma prece do Mestre, dizendo: 'Pai, perdoai esses jovens e velhos ignorantes e/ou mal intencionados: Eles não sabem o que pedem!'
Os vinte heróis da guerrilha do Caparaó, que tinham o sonho, de reeditar 'Sierra Maestra' de democracia e liberdade, caíram numa armadilha da PM de Manhuaçu e entregues ao exército com todas as pompas aos serviçais da época.
Certamente, mortos ou torturados!
Voltei ao meu burgo e resisti 'a mi manera', como na clássica canção imortalizada por Sinatra: My Way e também cantada por Elvis e Julio Iglesias e tantos outros.
Fundamos um jornal, 'O CORREIO DE ITAPERUNA' que após poucos números, fomos 'aconselhados' a não escrever 'bobagens!', como eram taxadas as críticas à ditadura!
Fundei o Diretório Estudantil 'OSÓRIO RODRIGUES CONCEIÇÃO' da Fafita, hoje Centro Educacional, que tive a honra de participar da sua fundação, sob a liderança do notável pe. Hubert Lindelauf, do qual fui secretário e por aquiescência sua, membro do Conselho Curador, durante um tempo.
Mas a 'Redentora' não foi condescendente comigo.
Na impossibilidade de me 'apanhar', já que era pupilo do padre, prendeu dois colegas do Diretório: Luiz Carlos Oliveira (já falecido) e Ronaldo Polly, advogado em Itaperuna e região que eram do diretório estudantil.
A versão que me foi apresentada para levar os 'meninos' para o DOPS em Niterói, era que tinham comprado um 'bugre' de bicheiros no Rio - aquele carrinho - adaptado de um fuscão, e 'tirando' ondas em Itaperuna.
Sofreram muito, segundo o promotor que acompanhou o caso em Niterói, mas foram soltos pouco mais de uma semana por interveniência dele.
Com essas divagações, às 5h30min da manhã deste sábado , 21 de março de 2015, comecinho do outono, encerro minha 'crônica" certo de que. alguém irá lê-la e tirar conclusões, principalmente os que conhecem minha luta.
Laércio Andrade de Souza - Presidente da Academia de Letras de Itaperuna-rj.
Ps. Texto sem revisão ortográfica do autor.
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